domingo, 26 de janeiro de 2014

Carta e selos egípcios

Escrever cartas era um hábito do meu pai, até porque era quase o único meio de comunicação para quem estava longe. Nesta carta que ele escreveu para mim em 1975 (eu tinha 12 anos), ele estava em Cagliari (cidade na Ilha da Sardenha, Itália). Cagliari tem um dos maiores portos  do Mar Mediterrâneo e em posição estratégica.

Na carta, além das perguntas e comentários de uma conversa informal, ele sinaliza que tem intenção de vir participar da minha primeira comunhão, mas ainda não tem certeza. Essa é a realidade dos marítimos, nem sempre estão em terra firme nos eventos da família. Observem que ele fala que estava pressionando o Arimathea, que na verdade era um grande amigo dele e trabalhava no escritório da Fronape, no Rio. Provavelmente, estava tentando obter um desembarque ao chegar ao Brasil.

Como das outras vezes, estou reproduzindo a carta em sua forma original e transcrevendo logo abaixo por causa da letra. Dessa vez vou incluir alguns comentários ao longo do texto transcrito.

Cagliari, 3-10-75
Meu caro Ricardo
Muito progresso nos estudos, nos esportes e em tudo o mais, com muita saúde, paz e prosperidade. Aqui vai tudo OK, graças a Deus. Como vai o Vascão? Bem ? Aqui estamos totalmente por fora de tudo, pois não se ouve nada do Brasil há mais de um mês. E o seu time no colégio, continua vencendo?(comentário: eu devia estar enganando ele, pois sempre fui um tremendo pereba no futebol). E as aulas de piano? Está tocando cada vez melhor? (comentário: pois é, tentei aprender, mas hoje só sei dedilhar o parabéns prá você). Estou apertando o Arimathea sobre a Primeira Comunhão. Já falou também com ele? Seguem anexo alguns selos egípcios, embora papai esteja muito zangado com eles. Fale com a mamãe e peça a ela para ver a carta que eu mandei para o Arimathea, onde você vê o porquê da zanga. (comentário: provavelmente os egípcios estavam atrasando o prazo para carregamento do navio) No mais tudo bem. Tudo tranquilo. Somente saudades muitas e espero muito breve estarmos aí juntos novamente. Ok?
Abraço amigo do papai sempre seu, Eduardo

E dentro do envelope, além da carta, os selos egípcios, aqui colocados todos juntos em uma só imagem. Entre os registros desses 15 selos comemorativos vocês podem observar a campanha para a doação de sangue, a Organização Mundial da Saúde, a comemoração da reabertura do Canal de Suez.



domingo, 19 de janeiro de 2014

Le Nouveau Testament

Umas das exigências para os marítimos é o conhecimento de outros idiomas, uma vez que irão singrar os mares e chegar a diferentes portos do mundo. A língua inglesa é obrigatória, mas outras serão muito úteis para uma melhor comunicação. É o caso do idioma francês.

Meu pai tinha um bom domínio da língua inglesa mas não me lembro de vê-lo falar ou ler em francês. Entretanto, este exemplar do novo testamento, em francês, edição de 1958, revela que ele o utilizava para aprendizado.

Uma vez ele comentou que usar textos conhecidos facilitava o aprendizado de outra língua, o que me parece bem coerente.

Em uma postagem anterior eu comentei que ele tinha a mania de escrever em qualquer espaço disponível em papéis, agendas, livros. É o que ele fez com este exemplar do novo testamento, escrevendo, em português, alguns textos relacionados a leitura dos textos sagrados.

A foto a direita, mostra o novo testamento aberto em sua página inicial, contendo transcrições dele de uma orientação sobre a leitura da Bíblia. Não sei quem é o autor dessa orientação, mas achei interessante reproduzir o texto pela sua utilidade e atualidade. E mesmo que você clique sobre a imagem, ampliando, talvez não consiga entender a letra.

Como ler a Bíblia com proveito:
1- Leia com reverência e humildade, em atitude de ouvir a Deus.
2- Leia devagar, procurando descobrir a mensagem que o escritor sagrado quis transmitir.
3- Sublinhe as passagens que mais o impressionaram.
4- Memorize um verso cada dia e medite sobre ele.
5- Reserve uma hora certa para a sua leitura diária.
6- Forme o hábito de ler a Bíblia diariamente.
7- Leia anualmente a Bíblia toda, lendo três capítulos por dia e cinco no domingo. (divida os Salmos 119 em 11 trechos)
8- Ore sempre antes e depois de ler a Bíblia.
9- Não se esqueça que durante a sua leitura Deus pode falar a você e você a Ele.
10- Leia a Bíblia com a sua família.
11- Permita que ela guie a sua vida.
Imagino que ele tenha conseguido por em prática essas orientações, até porque a vida do mar exigia rotina e disciplina, as viagens eram longas, o contato com notícias era raro e a dificuldade de se comunicar com a família era bem grande. Porém, qualquer um pode por em prática, começando hoje. Bom proveito!


domingo, 12 de janeiro de 2014

Artigo: Maury, O primeiro hidrógrafo da América

Publicado em dezembro de 1969, sob o título "Matthew Fontaine Maury - o primeiro hidrógrafo da América" este artigo foi adaptado pelo comandante Veiga Mattos a partir de uma publicação original do "The Compass". Além dos seus artigos, meu pai traduzia e adaptava textos para serem publicados de forma mais acessível nos boletins da Fronape.

A Carta de Baleias de Maury
Usando o mesmo método do artigo da semana passada, considerei melhor e mais fácil, escanear as páginas do boletim, de tal forma que os interessados possam ler o artigo na íntegra, e ver as imagens que o complementam.

Em resumo, o artigo aborda a vida e o legado do Tenente Maury, da marinha dos EUA. Suas pesquisas foram direcionadas às correntes e aos ventos de tal forma que pudesse prever e traçar as melhores, mais seguras e menores rotas entre dois pontos de navegação. Segue um trecho do artigo:


Cinco anos foram dispendidos para completar a primeira de suas famosas cartas: “CARTA DE VENTOS E CORRENTES DO ATLÂNTICO NORTE”, publicada em 1847. A esta seguiram-se outras similares do Atlântico Sul, do Pacífico e do Índico. Tinha tal confîança em seu trabalho que previu grandes  diminuições nos tempos das travessias, se os Comandantes seguissem suas instruçöes. Dentro em pouco tempo os Capitães compreenderam que ele estava certo. Por exemplo: na rota NEW YORK/SÃO FRANCISCO, via Cabo Horn, eram gastos seis meses, que foram reduzidos à metade. Outro bom exemplo: a rota INGLATERRA/AUSTRALIA via Cabo da Boa Esperança, com retôrno pela mesma via. A viagem de ida era mais rápida pois que eram aproveitados ventos favoráveis. O retôrno, mesmo que o navio tivesse a felicidade de pegar uma  monção favorável era bem demorado. Ele observou que o retôrno via Cabo Horn era vantajoso, dada a natural ajuda dos fortes ventos de oeste, o que encurtava a viagem em cêrca de cinquenta dias. A descoberta destas rotas favoráveis veio facilitar suas pesquisas. Os Capitães deixaram de ser relutantes em suas informações e começaram a chegar-lhe as mãos abundantes dados, permitindo-lhe atualizar as cartas de navegação. Além disso milhões de dólares de economia foram proporcionados aos armadores com o encurtamento das rotas. (MATTOS, E.V., 1969)
E chegando nas conclusões, o autor afirma:
A influência de Matthew Fontaine Maury no mundo marítimo é incomensurável. Seus estudos, aos quais  se aplicou  diligentemente, revolucionaram por completo a ciência da navegaçäo, trazendo indubitáveis auxilios aos marinheiros em sua eterna luta com o mar.

O artigo está disponível na íntegra clicando aqui.

Para efeito de utilização em citações, passo as informações dessa fonte:
MATTOS, Eduardo Veiga. Matthew Fontaine Maury - o primeiro hidrógrafo da América. Boletim Técnico Informativo da Fronape nº 173, pg 24-28. Ano XVIII. Estado da Guanabara, 1969.


sábado, 4 de janeiro de 2014

Vantagens do Transporte Aquaviário

Hoje, vou iniciar a publicação de alguns artigos técnicos escritos pelo Comandante Veiga Mattos e publicados, em sua maioria, nos boletins técnicos e informativos da Fronape.
Como eu escrevi anteriormente, este blog não segue uma ordem cronológica, ou seja, ao longo das atualizações eu vou colocar artigos escritos antes ou depois deste primeiro aqui publicado.

Vantagens do Transporte Aquaviário: sob este título o artigo foi publicado no Boletim nº 170, da Fronape, no ano de 1969. Como eu estou valorizando aqui neste blog as fontes primárias, resolvi escanear as páginas do boletim ao invés de digitar o artigo (decisão que também torna a minha tarefa mais fácil e mais rápida). De qualquer modo, transcrevo o trecho inicial do artigo para que você tenha uma ideia do tipo de abordagem.

Felizmente, no momento presente, o nosso país está acordando para as vantagens que o transporte aquaviário apresenta sôbre as outras vias usuais. Fundou-se, inclusive, junto à PUC o instituto Superior do Mar, que mantém cursos de divulgação e informação. Oficiais das Marinhas de Guerra e Mercante, têm participado ativamente dêsses cursos, quer como conferencistas ou professôres, quer como alunos. Vamos aqui, sucintamente, figurar alguns dados comparativos entre os vários tipos de transportes e a influência que o desenvolvimento das vias navegáveis exerce sôbre a economia e o progresso das nações.
(Mattos, E.V., 1969)

A íntegra deste artigo (em pdf) você pode acessar clicando aqui.

Canal Elba-Havel: conexão com o Canal Mittelland (Alemanha)
Em seguida, o autor aborda exemplos de sucesso da navegação no Vale do Tennessee (EUA) e obras previstas para ampliação da navegação fluvial na Alemanha. Obras, diga-se de passagem, realizadas com êxito naquele país que conta, atualmente, com mais de 30 canais internos de navegação. O autor conclui com dados comparativos sobre os custos do transporte de petróleo e a importância dos navios-tanques para o desenvolvimento econômico. A foto ao lado serve para ilustrar que permanece o desenvolvimento da navegação aquaviária na Alemanha. Ela é de 2003, na inauguração de uma conexão entre o Canal Elba-Havel com o Canal Mittelland.

Embora o artigo comece de forma otimista, a história recente comprovou que o autor estava errado. Não em relação às vantagens do transporte aquaviário, mas quanto ao fato de o Brasil ter acordado sobre a importância deste meio de transporte. Durante anos a indústria naval brasileira ficou abandonada e os recentes investimentos estão praticamente restritos à indústria de petróleo e gás. Quanto às vias de navegação fluviais, bom, é melhor nem comentar.

Para efeito de utilização em citações, passo as informações dessa fonte:
MATTOS, Eduardo Veiga. Vantagens do Transporte Aquaviário. Boletim Técnico Informativo da Fronape nº 170, pg 6-8. Ano XVII. Estado da Guanabara, 1969.
Para ter acesso ao artigo na íntegra, clique aqui.

Dados da fotografia:
Elbe-Havel Canal: water bridge connection with Mittelland canal. 1 fot., color. In Britannica Escola Online. Web, 2014. Disponível em:
<http://escola.britannica.com.br/assembly/121043/The-2003-opening-of-the-water-bridge-that-connects-the>. Acesso em: 04 de janeiro de
2014.