domingo, 29 de dezembro de 2013

A bordo do Cantuária

Como já foi relatado neste blog, o início da carreira de marítimo do meu pai foi no Lloyd Brasileiro. A foto desta postagem é de 24 de outubro de 1947, a bordo do navio Cantuária, embarcação para transporte de passageiros. Nessa época ele tinha 25 anos e provavelmente seu cargo era de 2º ou 1º piloto. Reparem que ele fez a pose para a foto, encantado por estar em Nova Iorque. A legenda original que eu reproduzo é o que está escrito atrás da fotografia.
  Legenda original: No campo de tênis do Cantuária. Ao fundo Empire State
e Chrysler Building vistos de Greenpoint - New York. 24/X/47
Aproveito para falar um pouco da história de cada fotografia. O navio cargueiro CANTUÁRIA foi uma das embarcações adquiridas para renovar a frota do armador Lloyd Brasileiro, em 1940. Se nome foi dado em homenagem ao ex Diretor do Lloyd Brasileiro Cantuária Guimarães, assassinado em 1927. A imagem abaixo, obtida no portal Portogente, mostra como era este navio. 
Navio Cantuária, do Lloyd Brasileiro, em aquarela de Julio Augusto Rocha Paes.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Influência dos antepassados

Ao constatar o amor e a dedicação do meu pai à navegação marítima, entendi que existia uma forte influência familiar quanto a esse assunto. Tanto o seu pai quanto o seu avô foram oficiais da Marinha do Brasil. No caso específico do seu avô (meu bisavô), ele foi uma referência fortíssima pois chegou ao cargo de Almirante, era um estudioso da navegação e foi dele que herdou o nome.

Livro editado pela Imprensa Nacional em 1905

E foi há pouco tempo que eu descobri um livro, escrito pelo meu bisavô, Eduardo Augusto Veríssimo de Mattos, em 1905, denominado "Tratado do Navio" ou "Explicador do Aparelho dos Navios". Consegui um exemplar em um sebo e a primeira página vocês podem ver na imagem ao lado direito.



A outra imagem mostra a aprovação de sua publicação por parte de uma comissão da Escola Naval, com o seguinte texto, que reproduzo para atestar a qualidade da informação e chamar a atenção para a ortografia daquela época:


Parecer da Comissão
"A Commisão eleita pela Congregação da Escola Naval para dar parecer sobre o livro intitulado Explicador de Aparelho dos Navios e Noções Geraes de Construcção Naval, organisado pelo Capitão de Fragata da Armada Nacional, Eduardo Augusto Veríssimo de Mattos, julga que o trabalho em questão tem incontestavel merecimento e póde servir não só como Compendio para os alumnos do 1º anno desta Escola, como também é um bom consultor e guia, no assumpto de que trata, para aquelles que se dedicam  a profissão maritima."

E a última imagem, é uma ilustração (estampa) do livro sobre as partes que compõem um navio a vela. Afinal, estamos falando de uma publicação do ano de 1905.

Estampa (ilustração) das partes de um navio a vela.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Procurando apartamento em Salvador

Carta para minha mãe: 10/10/1964
Procurar apartamento sempre foi uma tarefa árdua. Na postagem de 30/11/2013 eu falei sobre o tempo de trabalho "em terra", no escritório da Fronape, em Salvador. Antes da família, papai foi na frente para se instalar.

Esta carta, de 1964, que eu reproduzo aqui, trata principalmente deste assunto. Ao longo do texto ele trata das dificuldades e dos preços altos dos aluguéis. Ele apresenta a solução que lhe pareceu melhor, após visitar mais de 20 apartamentos. Para quem não sabe, Graça e Lapa são bairros de Salvador. Sobre o tal cheque que ele menciona, eu não descobri do que se trata. No início e no final, observem o estilo romântico e apaixonado das suas palavras.

Com uma letra difícil de compreender, eu "traduzo" a seguir o texto completo. Clicando na imagem ao lado é possível ver em bom tamanho a carta original.

Salvador, 10/10/1964
Minha querida Lélia
Beijos saudosos
Encontrei este cheque do Sr Eli no meio de alguns papeis e estou remetendo-o de volta. Tornei-o nominal por segurança. Para torná-lo ao portador é só você assiná-lo no verso.
Os apartamentos de 3 quartos são todos de 200 mil cruzeiros e mais as taxas vão a 250 o que acho muito pesado.
Encontrei um bom de dois quartos na Graça. Acho conveniente ficarmos com este. Já vi mais de 20 e este foi o mais em condições de preço, limpeza, local e etc.
Quanto ao mais, fiz boa viagem e estou hospedado no Solar Mouraria - Rua Eng.Silva Lima 4 (Lapa) tel. 3-2169.
Muitos beijos abraços e carinhos ao Ricardo e a você do sempre, só, exclusivamente, eternamente teu,
Eduardo.




Etapas da construção do N/T Presidente Deodoro

Nesta postagem, o objetivo principal é mostrar algumas fotos sobre a construção no navio tanque Presidente Deodoro, em Yokohama, no Japão. Essas fotos mostram etapas avançadas da construção, no ano de 1960, aliás, perto de ser concluído. Em breve, colocarei aqui as fotos do lançamento do navio no Japão e viagem inaugural.
Em cada foto, coloquei a legenda "original", ou seja, aquela que meu pai escreveu atrás da fotografia. Maior interesse neste caso ao engenheiros navais e marítimos, em geral.

Progresso da construção: 27/01/1960
Navio pronto para receber a chaminé. Atracado às docas do Tsurumi Shipyard: 15/02/1960
Vista do navio tirada da proa: 15/02/1960

sábado, 7 de dezembro de 2013

Tempo no Exército

certificado de reservista
Antes de ingressar na Escola de Marinha Mercante, meu pai se alistou no Exército, na condição de voluntário, durante o período da 2ª Guerra. Segundo informações colhidas com parentes, ele sentia a necessidade de se tornar independente logo cedo.

Era o mais velho de quatro irmãos e aos 18 anos, em 02/01/1941, começou o serviço no Exército, de onde saiu em 30/11/1944, qualificado como 3º sargento. Uma parte deste período foi na Ilha de Fernando de Noronha, território que foi considerado zona de combate pelas Forças Armadas.

Bom, vamos aos documentos. O primeiro deles aqui ao lado direito  é o certificado de reservista, mostrando essas datas, contendo a sua descrição física e no item "Sinais particulares", já estavam destacadas as "manchas encarnadas sôbre o supercílio esquerdo". Essas manchas eram uma característica que chamava a atenção; quem o conheceu se lembra muito bem.

verso do certificado de reservista
No verso deste certificado, mostrado aqui a esquerda, duas anotações interessantes.

A primeira delas diz respeito às penas disciplinares. Lá está registrado que "em 24-IV-942 preso 8 dias por se ter conservado sentado durante a passagem de uma tropa."

Neste mesma página, está lavrado um despacho, de 23/08/1945, dando permissão para que ele se matricule na Escola de Marinha Mercante do Rio de Janeiro. Provavelmente, por ser reservista do Exército, ele precisou desta permissão para seguir o seu novo caminho.

Ainda durante o período em que estava servindo ao Exército, ele foi classificado em 1º lugar (com nota final de aprovação 9.8) no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos da Escola de Artilharia de Costa, conforme atesta do certificado que aparece logo abaixo.

certificado do curso de aperfeiçoamento

domingo, 1 de dezembro de 2013

Prometa a si mesmo

Abordando um outro aspecto, uma de suas manias, era a de escrever ou transcrever pensamentos, frases, orações, em qualquer papel que estivesse a mão. E assim, há inúmeras agendas, livretos, e cartas com essas transcrições.

A imagem que eu coloquei aqui é um desses exemplos, em uma pequena agenda de 1981.
Nas páginas abertas, uma frase de Andre Maurois e um texto de Christian Larson. Este texto eu já encontrei em várias de suas anotações o que mostra que era um dos que ele gostava muito.
Nesta agenda ele escreveu com uma letra "de imprensa" e é mais fácil de vocês lerem, sem neessidade da minha "tradução". Basta clicar sobre a imagem para ver melhor. O título é "Prometa a si mesmo".





sábado, 30 de novembro de 2013

Na época não existiam crachás...

Seguem dois tipos de identificação, em dois momentos diferentes. A carteira funcional da época em que ele atuou "em terra", ou seja, no escritório da Fronape, em Salvador, Bahia. Daí vem a sigla que aparece: ESBAH, onde ele trabalhou de 08/10/1964 a 25/11/69 e onde nós moramos.

Na mesma imagem, na parte de baixo, um cartão de identificação simples, com o endereço da Fronape, no bairro do Caju, aliás, onde há instalações da Petrobras até hoje. A carteira é da década de 70 e o cartão da década de 80.

Observem que a logomarca da Petrobras veio se modificando ao longo do tempo. É interessante analisar esses documentos pessoais, porém históricos. A Fronape foi criada em 25 de abril de 1950, antes da Petrobras, por um Decreto do Presidente Getúlio Vargas. Em 1952 ela ficou sob a jurisdição do Conselho Nacional do Petróleo. E após a criação da Petrobras, em 03/10/1953, ela passou a fazer parte da própria Petrobras.

Por isso, mesmo trabalhando na Fronape, a sua data de admissão na Petrobras aparece como sendo 21/10/1953. Provavelmente, foi o tempo para os trâmites de alteração de todo o corpo funcional da Fronape para a Petrobras.




Caderno de estudos e de registros

Este caderno contém anotações do meu pai do início da década de 50. Ele o acompanhava nas viagens, servindo tanto como anotações de estudo quanto de registros do próprio serviço.
Ao longo do cadernos, há um pouco de tudo: rascunho de cálculos, transcrição de textos de livros ou apostilas, registros de viagem, e até mesmo citações, poemas, textos de inspiração.
A primeira foto serve apenas para que você tenha uma idéia do tipo de caderno sobre o qual eu estou falando.

Caderno aberto









A segunda foto mostra um trecho do caderno, onde ele registrou informações sob o título "Como carregar um navio-tanque". Eu ainda entendo a letra dele, o que não é tarefa fácil, mas acredito que eu consigo isso porque ele me enviava muitas cartas enquanto estava viajando. Naquele tempo as cartas eram o nosso principal meio de comunicação. Mas vamos ao texto do caderno, só as primeiras linhas deste trecho que eu escolhi:
1º) Calc. o peso morto total (total Deadweight) com que o navio ficará depois de carregado, considerando o limite de calado de acordo com as convenções internacionais de "Load line".
Todos os navios trazem a sua escala de peso morto desenhada pelos construtores, na qual estão assinaladas as diversas linhas-limite de calado estabelecidas de acordo com a..." e por aí vai esta parte.



Este outro trecho ilustra um registro de viagem entre Rio de Janeiro e Puerto de la Cruz (Venezuela), com dados sobre o carregamento. Esta foi a viagem nº 5 do Navio-tanque Minas Gerais, construído na Holanda, em 1952. Nesta viagem ele partiu do Rio em 26/10/1953 e partiu de Puerto La Cruz em 13/11/1953, de volta ao Rio. As anotações registram a quantidade em toneladas de óleo e água. Por hoje é só.




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Manual do Navegante

Entre os documentos e livros do meu pai, está o Manual do Navegante,  4ª edição, de 1955. Este livro escrito pelo Vice-Almirante Guilherme Ivens Ferraz, da Marinha de Portugal, apresenta um resumo sobre as "regras e preceitos da lide do mar". Sua primeira edição é de 1910.

Decidi fazer uma doação deste livro para uma biblioteca. Não sei ainda se o farei para a biblioteca da Petrobras, da Marinha ou para a Biblioteca Nacional.

Pela rápida pesquisa que eu fiz, não é um livro raro e está disponível em sebos e em algumas bibliotecas. De qualquer forma, considero mais adequado que este exemplar fique guardado em local próprio e disponível para pesquisadores interessados.

Aqui neste blog, deixo o registro da capa e da primeira página, onde consta a assinatura do seu antigo dono, o Comandante Veiga Mattos, que provavelmente utilizou este manual como uma fonte de estudo e consulta.

domingo, 24 de novembro de 2013

Construção do N/T Presidente Deodoro

Conforme eu escrevi em uma postagem anterior, meu pai acompanhou a construção, no Japão, do navio tanque Presidente Deodoro, da Fronape (Frota Nacional de Petroleiros).

A foto seguinte mostra uma das etapas da construção, com a colocação da chaminé. A foto está um pouco deteriorada por ação do tempo, mas é possível ver com clareza a operação.

Legenda original: A cábrea colocando a chaminé sobre o navio. 15/02/1960

Acidente

Em outubro de 1963, um acidente grave entre o navio tanque Presidente Deodoro e o navio de passageiros Ana Nery, afetou duramente a nossa família. Inquérito, imprensa, Tribunal Marítimo, enfim, os chamados ossos do ofício. A nota oficial da Fronape, reproduzida abaixo, ilustra o reconhecimento da empresa pelo trabalho do Comandante Eduardo Veiga de Mattos, ou simplesmente, Comandante Veiga Mattos, como o meu pai era conhecido profissionalmente. Destaco um trecho no qual a nota oficial afirma que ele é "considerado um dos melhores profissionais do quadro de comandantes da FRONAPE."

Nota ofical publicada no Jornal Correio da Manhã, em 17/10/1963


Começando

O blog não será cronológico, ou seja, vou colocar as informações conforme vou obtendo ou de acordo com a inspiração. Meu pai Eduardo Veiga de Mattos, morreu em 1994, com 72 anos, portanto ainda novo considerando a época. Deixou muitas informações, fotos, documentos, relacionados, principalmente, à sua atuação profissional como oficial da Marinha Mercante Brasileira, trabalhando por mais de 30 anos na Frota Nacional de Petroleiros (FRONAPE) da PETROBRAS. Aposentou-se como Capitão de Longo Curso.

Oriundo da empresa Lloyd Brasileiro, ele viu nascer em outubro de 1953, a Petrobras, que a partir dessa época incorporou a frota de petroleiros em que ele já trabalhava, até então ligada ao Conselho Nacional de Petróleo.

A primeira foto a ilustrar este blog, tirada em 19/03/1960, mostra o término de uma inspeção em um tanque de combustível do Navio Tanque Presidente Deodoro. Este navio foi construído no Japão, e meu pai foi o seu primeiro comandante, também responsável por acompanhar as obras de construção.
Legenda original: Inspeção de tanque. Saindo do tanque de óleo combustível nº 2. Tudo Ok.